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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

 Preservação da 

   

Débora alves canela nº 13



A Terra bem que poderia ser chamada de Planeta Água1 ou de Planeta Azul, como a denominou o astronauta russo Gagarin, pois cerca de 2/3 (71%) de sua superfície é coberta por oceanos e mares. As terras emersas, que formam os continentes e ilhas, destacam-se apenas como manchas.
         A água, a substância mais comum no planeta, participa de seus processos modeladores, pela dissolução dos materiais pétreos e/ou pelo transporte de partículas, sendo reconhecida como o melhor solvente disponível na natureza.
         O surgimento da água está ligado à formação do sistema solar2. No Big Bang, explosão que há 15 bilhões de anos deu origem ao Universo, surgiram os primeiros átomos de hidrogênio. Durante vários milhões de anos depois, nuvens de hidrogênio e hélio, dispersas no cosmos, foram se adensando, formando as primeiras estrelas. Devido ao calor, essas nuvens primordiais permaneceram na forma de vapor nas regiões periféricas desses corpos celestes. Em continuidade, no interior delas as reações nucleares originaram vários elementos químicos, entre eles, o oxigênio. A água se originou da combinação dos gases hidrogênio e oxigênio, inicialmente como vapor d'água. Com a solidificação da superfície dos planetas esse vapor ficou  aprisionado em seu interior. Aqui na Terra, entre 4,2 a 4,5 bilhões de anos, durante a formação da crosta, ocorreu um processo de desgaseificação. O núcleo da terra, que continuava candente, expulsou para a crosta grande quantidade de água na forma de vapor. Nesse período, os vulcões expeliram gases como hidrogênio e vapor de água que deram origem à atmosfera. À medida que as elevadas temperaturas baixaram, houve condensação do vapor, que se transformou em nuvens. Os gases que envolveram a Terra chegaram a ser tão densos que parte deles passou ao estado líquido, dando origem às chuvas, as quais, devido à força de gravidade, se precipitaram na superfície, em forma de chuvas torrenciais. Formaram-se assim os oceanos primitivos. Como parte desse processo evolutivo, a água doce iniciou a sua formação há cerca de 3,7 bilhões de anos. Nesse mar primordial que cobria a Terra, a vida teve início há cerca de 3,2 bilhões de anos, depois que as chuvas lavaram a atmosfera eliminando os vapores de enxofre. Devido às condições ideais de afastamento da Terra em relação ao Sol, de suas dimensões e da baixa magnitude da força de gravidade, a água ocorre nos estados sólido, líquido e gasoso. Se a distância entre o Sol e a Terra fosse apenas 5% menor do que a atual, o nosso planeta receberia 10% a mais de energia solar. Isso transformaria toda a água da atmosfera em vapor. Se a distância fosse 10% maior, os oceanos se congelariam até grandes profundidades. À medida que os continentes emergiram, apareceram os rios, os lagos, as lagoas e os pântanos. A parcela que se infiltrou na superfície e se acumulou entre as camadas de rochas do subsolo formou as águas subterrâneas. Posteriormente,  cerca de 500 milhões de anos, essa água doce contribuiu para que a vida conquistasse a terra.
         As águas que ocorrem na natureza formam a hidrosfera, que tem um volume de 1,46 bilhão de quilômetros cúbicos3. Essa elevada disponibilidade de água no globo estimulou uma política de desperdício dos recursos hídricos em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, mas apenas 0.007% desse volume total está disponível para o consumo humano. Essas águas se distribuem em reservatórios aéreo (atmosfera), superficiais (oceanos, mares, rios, lagos, lagoas, pântanos e depósitos artificiais) e de subsuperfície (águas subterrâneas), e se integram em um circuito fechado, formando o Ciclo das Águas ou Ciclo Hidrológico. O volume de água que evapora dos oceanos é cerca de 47.000 km³/ano maior que o fluxo que nele precipita. Esse valor excedente indica o volume de água que é transferido dos oceanos para os continentes durante os processos de evaporação e precipitação. A água retorna aos oceanos pela precipitação direta e pelo escoamento dos rios e de fluxos subterrâneos. Assim, a quantidade total de água na Terra permanece constante. O volume e o percentual de distribuição dessa água no planeta, assim como o tempo de permanência nos diferentes reservatórios está apresentado na Tabela 1. A radiação solar, além de ser o motor que impulsiona o ciclo, ajudado pela força de gravidade, permite a separação do sal da água durante o processo de evaporação, quando da formação das nuvens. Essas nuvens, quando encontram correntes de ar frio ou baixas pressões atmosféricas, condensam e se precipitam sob a forma de chuva, granizo ou neve. Uma fração da água precipitada evapora antes de alcançar o solo, pois é interceptada pela vegetação ou por outras superfícies. Parte corre sobre a superfície do solo, formando os reservatórios de superfície, e outra fração se infiltra formando as água subterrâneas. Apesar da afirmação imprecisa de leigos de que a água está "acabando", a quantidade de água na Terra é praticamente invariável desde a sua origem, ocorrendo apenas o acréscimo de uma fração diminuta, denominada de água juvenil, que é expelida pelos vulcões. A água que hoje utilizamos é a mesma água que os dinossauros bebiam. O que tem sido alterado é o aumento da demanda, e da sua distribuição nos reservatórios naturais e artificiais e a perda de sua qualidade, o que eleva o seu custo e aumenta a exclusão social.



Três principais problemas agravam o quadro de disponibilidade hídrica mundial5: (i) a degradação dos mananciais; (ii) o aumento exponencial e desordenado da demanda; (iii) o descompasso entre a distribuição das disponibilidades hídricas e a localização das demandas, pois as águas estão  distribuídas de forma heterogênea, tanto no tempo como no espaço geográfico. Assim, a escassez hídrica tem gerado instabilidades e conflitos econômicos e socioambientais, os quais tendem a agravar-se com o tempo. Por isso é imprescindível que a água seja tratada como um recurso estratégico, para que o seu uso sustentável seja lastreado no seu uso racional, no fortalecimento institucional, em marcos regulatórios, no planejamento e gestão integrada, na disponibilidade de recursos financeiros, e, principalmente, no respeito ao princípio de que todos têm direito à água de qualidade, um bem fundamental à vida.
         Atualmente mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm água suficiente para suprir as suas demandas domésticas, que segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS é de 200 litros/dia. Estima-se que, em 30 anos, haverá 5,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas com moderada ou elevada escassez de água. 
         Alguns eventos agravam o cenário tanto da oferta como da demanda de água doce no mundo, tais como o crescimento demográfico associado a padrões de consumo não sustentáveis. Estima-se que o crescimento populacional aumentou três vezes no decorrer do século XX, passando de 2 para 6 bilhões de habitantes. Nesse mesmo período, a demanda de água aumentou sete vezes, isto é, passou de 580 km³/ano para aproximadamente 4.000 km³/ano. Esses dados tornam-se relevantes na medida em que é previsto que a população mundial estabilize-se, por volta do ano 2050, entre 10 e 12 bilhões de habitantes, o que representa cerca de 5 bilhões a mais que a população atual6. Outro fator que agrava o cenário da utilização das águas no mundo é a gestão ineficiente dos recursos hídricos em basicamente todas as atividades antrópicas, como ocorre na agricultura, na indústria e nos sistemas de abastecimento público de países, onde o desperdício de água, como em algumas regiões brasileiras, é superior a 60%.
         Nesse quadro de indisponibilidade de água doce, constata-se que a escassez hídrica já está instalada na Arábia Saudita, Argélia, Barbados, Bélgica, Burundi, Cabo Verde, Cingapura, Egito, Kuwait, Líbia, Jordânia e Tailândia, e poderá ocorrer em médio prazo na China, Estados Unidos, Etiópia, Hungria, México, Síria e Turquia7.
          No caso do Brasil, que dispõe de cerca de 12% de toda a água doce do planeta, cerca de 89% do volume total estão concentrados nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde estão localizadas apenas 14,5% da população. Para as regiões Nordeste, Sudeste e Sul, onde estão distribuídos 85,5% da população, há disponível apenas 11% do potencial hídrico do país. Além da natural carência para o atendimento da demanda de abastecimento público e privado, esta heterogeneidade de distribuição das águas gera eventos críticos tais como cheias catastróficas e períodos cíclicos de secas.
Cada um de nós tem uma parcela de responsabilidade nesse conjunto de coisas. Mas, como não podemos resolver tudo de uma só vez, que tal começarmos a dar a nossa contribuição no dia-a-dia? Você sabe quantos litros de água uma pessoa consome, em média, por dia? Não? São cerca de 250 litros (isto mesmo, 250 litros ou mais): banho, cuidados de higiene, comida, lavagem de louça e roupas, limpeza da casa, plantas e, claro, a água que se bebe.

Dá para viver sem água? Não dá. Então, a saída é fazer um uso racional deste recurso precioso. A água deve ser usada com responsabilidade e parcimônia. Para nós, consumidores, também significa mais dinheiro no bolso. A conta de água no final do mês será menor. O mais importante, no entanto, é termos a consciência de que estamos contribuindo, efetivamente, para reduzir os riscos de matarmos a nossa fonte de vida: a água.
      




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